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Diagnóstico Precoce

Diagnóstico precoce salva-vidas

Todos os anos, surgem anualmente na Europa cerca de 400.000 mil novos casos de cancro da próstata e morrem cerca de 90.000 homens. Fruto das mudanças de comportamento masculino e da emergência de novos tratamentos mais inovadores, hoje em dia, já é possível obter taxas de sucesso próximas dos cem por cento, desde que o cancro da próstata seja detectado numa fase inicial.

Andreia Pereira

O diagnóstico precoce e o desenvolvimento de novos tratamentos têm ditado uma mudança de paradigma do cancro da próstata na última década. Mas, apesar de todas as armas terapêuticas Disponíveis, em Portugal, a mortalidade ainda é elevada: todos os anos falecem cerca de 1800 homens devido a este tumor.

Para o Dr. Carlos Rabaça, assistente graduado de Urologia do Instituto Português de Oncologia de Coimbra e médico na clínica Cetruc, «trata-se de um cancro cuja incidência aumenta com a idade, particularmente, a partir dos 40 anos». Como tal, a preocupação dos especialistas é alertar para a importância do diagnóstico o mais cedo possível, já que o cancro da próstata é o terceiro mais mortal no homem, a seguir ao cancro do pulmão e colo-rectal.

Segundo as recomendações internacionais, todos os homens, a partir dos 50 anos, devem fazer uma avaliação anual da sua próstata. No entanto,«O aparecimento de inúmeros casos de cancro da próstata em idades cada vez mais precoces leva-nos a recomendar a vigilância regular apartir dos 40 anos», esclarece o urologista.

De acordo com o Dr. Amílcar Sismeiro, director do Serviço de Urologia do IPO de Coimbra e urologista na Cetruc, «o diagnóstico precoce tem permitido fechar o cerco ao cancro da próstata». E como? «A avaliação da próstata baseia-se em três exames», completa o especialista. «Em primeiro lugar através da observação clínica, através do toque rectal, em que o médico por intermédio da palpação da próstata consegue detectar irregularidades ou assimetrias na superfície da glândula.» O antigénio específico da próstata (vulgo PSA) é um marcador tumoral, surgido há pouco mais de duas décadas, que «permite suspeitar a presença de uma neoplasia com sede na glândula», afiança Amílcar Sismeiro. Os especialistas socorrem-se, ainda, da ecografia transrectal, um exame imagiológico que «mostra a estrutura da próstata, permitindo identificar eventuais lesões suspeitas, nomeadamente se estiverem localizadas na periferia da glândula».

Ausência de sintomas atrasa diagnóstico.

Contrariamente ao que se julga, o cancro da próstata não apresenta quaisquer sinais numa fase inicial. «Há alguns homens que confundem os sintomas de hiperplasia benigna da próstata (HBP), associada a dificuldades miccionais, com o cancro da próstata. Contudo, as queixas relacionadas com o tumor surgem, apenas, numa fase já avançada, em que a doença já se disseminou a outros órgãos, nomeadamente aos ossos», aponta Carlos Rabaça.

Segundo Amílcar Sismeiro, depois do PSA, registou-se uma «revolução» no diagnóstico do cancro da próstata: «Mais de 80% dos tumores detectados na últimas década estão localizados no órgão, o que eleva as possibilidades de cura.» Até há uns anos, as hipóteses de sobreviver a um cancro da próstata «eram reduzidas e as perspetivas de tratamento eram meramente paliativas», adianta o urologista.

Embora o PSA seja uma ferramenta «fundamental na suspeita precoce de cancro, este marcador não é cem por cento fiável». Deste modo, o passo seguinte, quando existe uma suspeita, é realizar uma biopsia. «Este exame, que consiste na recolha de fragmentos da próstata, por via ecoguiada e transrectal, é o único que nos permite confirmar, sem sombra de dúvidas, a existência de cancro», assegura Amílcar Sismeiro.

Mas, antes de remediar, os homens devem fazer exames regulares, pois só assim sabem qual o estado de saúde da próstata. «A maior parte dos casos são detetados em consultas de rotina», confirma o urologista Amílcar Sismeiro. Esta detecção precoce, avança o especialista, «pode ser determinante no sucesso do tratamento».

Combater o tumor, segundo Carlos Rabaça, o tratamento do cancro da próstata depende da extensão da doença. «Apenas a doença localizada tem cura. Quando o tumor está disseminado, ou seja, metastizado, já não há possibilidade de cura, o que não quer dizer que não haja tratamento. Nestes casos, a opção terapêutica recai sobre a hormonoterapia, um procedimento que controla a doença apenas entre 2 a 4 anos, não evitando a progressão para a morte», esclarece.

Quando o tumor se encontra num estado avançado e se alastra a outras partes do corpo, os médicos podem ainda recorrer à quimioterapia e a fármacos(bisfosfonatos) que ajudam a preservar o osso das metástases.

No entanto, quando o tumor ainda está localizado apenas na próstata, as taxas de sucesso são elevadas.

«Os tumores iniciais são aqueles que têm cura, havendo apenas três tipos de tratamentos curativos para o cancro da próstata”, fundamenta Carlos Rabaça. “Aquele considerado mais eficaz é a prostatectomia radical, que consiste na remoção cirúrgica da próstata, com uma sobrevida elevada mas com dois efeitos secundários possíveis importantes: a disfunção erétil e a incontinência urinária. Em alternativa à cirurgia, alguns doentes optam por radioterapia externa, método com menor compromisso da função sexual e sem repercussões na continência urinária, mas com taxas de cura inferiores às da cirurgia e não desprovido de efeitos secundários importantes e igualmente incapacitantes, como a rectite radica, a cistite radica, ou a alteração do transito intestinal”.

Ainda segundo Carlos Rabaça, “Recentemente foi introduzido um terceiro tipo de tratamento, a braquiterapia prostática, uma forma de radioterapia intersticial, que consiste na introdução de sementes radioativas na próstata sob anestesia)”. Refere o clínico “Tratar-se de um método que demonstrou taxas de cura sobreponíveis às da prostatectomia radical, na maior parte dos cancros da próstata, mas com muito menos efeitos secundários, pelo que é cada vez mais o preferido pelos doentes”. Nos EUA, por exemplo, é o método mais escolhido, sendo o preferido por mais de metade dos doentes.

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Sementes que curam.


A braquiterapia moderna, que apareceu há pouco mais de 15 anos nos Estados Unidos da América, veio revolucionar o tratamento do cancro da próstata em todo o mundo. Em Paris, no ano de1903 Pierre curie descobre os princípios do material radioactivo e inicia os tratamentos oncológicos (nascimento da braquiterapia). No início da década de 1990 um novo exame, a ecografia transrectal (meio de diagnóstico por imagem), viria a revolucionar o tratamento do cancro da próstata, aperfeiçoando a técnica, quer nos Estados Unidos da américa, quer na Europa, inaugurando, desta forma, a braquiterapia moderna.

Esta técnica minimamente invasiva tem conquistado adeptos de Norte a Sul do País. Mas, afinal, em que consiste a braquiterapia?

«Trata-se de um procedimento que visa a introdução de sementes radioativas no interior da próstata. Este material é colocado com a ajuda de agulhas, em locais estratégicos que delimitam o órgão. Uma vez dentro da glândula próstática, as sementes vão tratando o cancro», garante o Dr. Guy Vieira, médico radioterapeuta da Cetruc, em Coimbra.

«É uma intervenção simples, que dura apenas uma hora. Após esse período de tempo, por precaução, o doente fica no recobro, mas pode ter alta no dia seguinte, retomando rapidamente a sua atividade diária, sem restrições.» Os resultados que se «obtêm com a braquiterapia são idênticos aos da radioterapia externa e prostatectomia radical, mas com muito menos efeitos secundários nos órgãos vizinhos».

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Qual a melhor opção?

– Prostatectomia radical: técnica que consiste na remoção total da próstata; apesar da elevada taxa de sucesso (próximo dos 90 por cento), após esta intervenção, o doente poderá manifestar sintomas de incontinência urinária (quase universal nos primeiros meses, mas permanente em 3-10% dos doentes) ou de disfunção eréctil (entre 50 a 90 por cento dos doentes);

– Radioterapia externa: feixes radioactivos que são emitidos sobre a próstata, durando o tratamento cerca de 2 meses;

– Braquiterapia: técnica da família da radioterapia, mas minimamente invasiva e que permite uma intervenção em regime de ambulatório, ou com internamento de apenas um dia. Taxa de sucesso idêntica à da cirurgia radical, na maior parte dos tumores.

– Quimioterapia: tratamento indicado para doentes cujo tumor se encontra numa fase avançada;

– Hormonoterapia: administração de fármacos que inibem a acção da testosterona (castração química); é uma técnica usada em cancros avançados, não sendo curativa;

– Crioterapia ou tratamento localizado com ultrassons de alta intensidade (HIFU): os resultados destas técnicas são controversos, não sendo considerados pela comunidade científica como formas de tratamento de 1ª linha.

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