Cerca de 50% dos doentes com cancro da próstata nunca falam ou passam vários meses sem falar com a sua família sobre o cancro da próstata. Falámos sobre esta doença com o médico urologista Carlos Rabaça.
O que é o cancro da próstata? E qual o impacto desta doença em Portugal e no mundo?
O cancro da próstata é um tumor maligno da próstata e constitui a terceira neoplasia mais frequente no homem e a segunda causa de morte por cancro no homem, sendo a principal causa de anos de vida perdidos.
Apesar de ser a 3ª principal causa de morte por cancro no homem, um inquérito realizado recentemente pela Associação Portuguesa de Urologia (APU) e pela Associação Portuguesa de Doentes da Próstata (APDP) demonstrou que ainda existe uma grande falta de conhecimento e literacia. Porque é que tal acontece?
A falta de conhecimento existente deve-se, por um lado, à falta generalizada de literacia em saúde da nossa população, mas também a uma importante falta de preocupação das autoridades em relação a este cancro. Veja-se, por exemplo, o cuidado dispensado a rastreios do cancro da mama ou do cancro colorretal, comparativamente à falta de uma política em relação ao cancro da próstata.
O mesmo inquérito concluiu que cerca de metade dos doentes com cancro da próstata nunca falam ou passam muito tempo sem falar com a sua família sobre o cancro da próstata. O que é necessário fazer para mudar este paradigma?
É um problema generalizado dos doentes com cancro. Continua a haver uma espécie de vergonha em ter cancro e uma preocupação em esconder esta doença. No entanto, a consciencialização progressiva de que se trata de uma doença que afeta grande parte da população e começa a ser considerada uma doença crónica que não conduz necessariamente à morte, tem permitido o assumir da mesma e a discussão sobre o assunto.
Quais são os principais sintomas do cancro da próstata?
Contrariamente ao que se pensa, o cancro da próstata raramente dá sintomas numa fase inicial. Aqueles sintomas urinários próprios dos homens com mais idade resultam da hiperplasia benigma da próstata e não do cancro da próstata. Na verdade, os primeiros sintomas da doença são habitualmente as dores resultantes das metástases ósseas. Nessa fase, já há muito a doença ultrapassou a fase de cura.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da doença deve ser feito muito tempo antes desta se manifestar, se quisermos fazê-lo numa fase em que seja curável. Faz-se através de uma biópsia prostática (ecoguiada convencional ou de fusão), após uma alteração do toque rectal, do PSA (marcador tumoral medido no sangue) ou de exame de imagem (ecografia ou ressonância magnética).
É possível prevenir o cancro da próstata?
Não há, neste momento, forma conhecida de prevenir o cancro da próstata. Daí a necessidade do diagnóstico precoce, pelo que recomendamos a realização de um PSA (Antigénio Específico da Próstata) e de um toque rectal desde os 40 anos de idade.
Quais são os tratamentos disponíveis?
Dependem da fase em que o tumor é diagnosticado. Numa fase inicial, em que o cancro está localizado na próstata, sem metástases, o tratamento pode ser feito por prostatectomia radical (remoção cirúrgica da próstata por via aberta, laparoscópica, ou robótica, sendo todos os três métodos semelhantes em termos de resultado oncológicos e em termos de complicações, nomeadamente disfunção eréctil ou incontinência), por radioterapia externa, ou por braquiterapia prostática (colocação de sementes radioactivas na próstata). Neste momento, estamos a começar a fazer tratamento focal do cancro da próstata, ou seja, tratar apenas a parte da próstata afetada e não toda a próstata, reduzindo assim os efeitos secundários, utilizando técnicas como a criocirurgia, a braquiterapia ou o HIFU.
No cancro metastizado, o tratamento baseia-se na hormonoterapia (castração química, já que o cancro da próstata é hormonodependente). Nos últimos dez anos, surgiram várias drogas altamente eficazes, como a quimioterapia, os anti-androgénios de segunda geração, os radiofármacos ou os inibidores da PARP. Estas novas drogas permitiram um aumento significativo da sobrevida destes doentes, ajudando a alterar o paradigma do cancro da próstata duma doença mortal para uma doença crónica.
O inquérito a doentes com cancro da próstata e seus cuidadores, desenvolvido pela APDP e APU, foi realizado no âmbito da campanha de consciencialização #VamosTocarNesteAssunto. Como surgiu esta campanha e quais os seus objetivos?
A campanha #VamosTocarNesteAssunto visa promover o aumento da literacia na área do cancro da próstata e alertar a população, e especialmente os homens, para a importância do diagnóstico precoce e de realizar exames periódicos a partir dos 45-50 anos.
Referência: https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/contrariamente-ao-que-se-pensa-o-cancro-da-prostata-raramente-da-sintomas-alerta-medico